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Pontos principais
Planejamento curricular, como começar?
Antes de pensar em planejamento de aulas especificamente, é importante entender primeiro qual é o currículo proposto da escola, se existe liberdade para alterá-lo ou não e de que forma você pode se adequar ao mesmo, além de levar em consideração a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que estabelece os parâmetros básicos de todo o Brasil. Isso é essencial para que as aulas estejam alinhadas com a visão da escola sobre a formação dos alunos e o que se espera de você como educador dentro deste contexto amplo. À partir dessa avaliação, podemos pensar em algumas estratégias de planejamento, mas o mais importante é pensarmos primeiro em quais objetivos principais gostaríamos de atingir com nossos alunos para depois planejar os bimestres/trimestres, unidades, avaliações e aulas com mais detalhes.
Após entender essa visão curricular mais ampla, dependendo da escola você poderá desenvolver seus próprios objetivos de aprendizagem. Segundo Puentes, “o objetivo constitui o desenvolvimento e transformação pré-mediata e planejada de antemão pelo aluno em função do processo de aprendizagem.” (2023, p.58). Os objetivos de aprendizagem se encontram explícitos nos planos de aula e programas de aprendizagem e, a partir da definição dos mesmos, o(a) educador(a) irá elaborar estratégias de ensino, aprendizagem e avaliação para que os mesmos sejam alcançados.
Independente da criação ou utilização de objetivos já existentes, é interessante ter uma base teórica para se pensar a prática. Alguns bons exemplos a se seguir são: a Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire; a ideia de educação como prática libertadora de bell hooks, o conceito de Zona de Desenvolvimento Iminente de Vigotski), os princípios da educação musical informal de Lucy Green e a filosofia de “ensinar música musicalmente” Keith Swanwick. Todos esses livros estão listados na parte de bibliografia do site, caso se interesse em entender mais a fundo os conceitos articulados neste texto.
Após considerar todos esses aspectos e realizar esse estudo prévio, além de analisar o currículo da escola, vamos utilizar como exemplo os seguintes objetivos de aprendizagem, e entender como poderíamos articulá-los ao longo do nosso planejamento:
Ao final de um ano, meus alunos serão capazes de:
- Tocar um instrumento musical
- Colaborar em um grupo musical
- Construir arranjos em conjunto
- Refletir sobre seu aprendizado
- Analisar a forma de canções
Este é um exemplo de uma série de objetivos de aprendizagens gerais, mais voltados para a prática em conjunto e a prática musical em si. Caso o currículo já esteja definido e seja mais voltado para teoria musical, história da música ou outros temas, é possível desenvolver outros objetivos que cubram o que será proposto. A partir desses objetivos mais amplos, é interessante criar unidades temáticas e/ou organizações bimestrais/trimestrais/semestrais: dependendo do funcionamento da sua escola pode fazer sentido organizar em torno dos períodos avaliativos.
Sobre os objetivos em si, aqui estamos utilizando verbos baseados na versão revisada da Taxonomia de Bloom, que classifica verbos de comando a partir dos níveis de cognição. É uma boa referência para elaborar objetivos tangíveis, e é interessante selecionar verbos de comando apropriados para este fim, já que devem ser alcançados ao final do período letivo. Independente dos verbos escolhidos serem considerados de maior ou menor complexidade, é importante que exista uma progressão de nível de cognição para que o aluno esteja sempre aprendendo algo novo e gerando processos mais complexos. Os objetivos de aprendizagem vão partir dos amplos relacionados ao ano para mais específicos quanto menor o período de tempo que estamos considerando. Um objetivo de uma ou mais aulas pode ser específico e relacionado a um tema, que estará conectado à algum ou alguns objetivos mais amplos de bi/trimestre, semestre, ano ou até mesmo segmento.
Bimestre/Trimestre
Após criar ou entender quais são os objetivos do currículo e ano letivo, o próximo passo é desenvolver os objetivos de aprendizagem dos bimestres ou trimestres, sempre relacionados aos objetivos gerais. A ideia é utilizar o mesmo princípio de entender em se onde deseja chegar para elaborar as aulas e atividades. Portanto, é interessante pensar no último período letivo e ir desenvolvendo os objetivos de aprendizagem ‘de trás para frente’. É importante também pensar em objetivos amplos, para que as aulas possam ser adaptadas a outros formatos, caso o professor necessite mudar um pouco seu formato de aula. A ideia aqui não é engessar, mas estruturar algo que possa ser também dinâmico e mutável e, ao mesmo tempo, garantir que o aprendizado esteja ocorrendo de uma forma homogênea, seja qual for a metodologia aplicada.
Unidades
Uma boa forma de organizar como seu conteúdo será trabalhado durante o ano é pensar em unidades. Em Understanding by Design, os autores propõem que a unidade seja temática, baseada em perguntas essenciais sobre esse tema, e entender que “entendimentos” (understandings, no original) seriam necessários para que os alunos realmente compreendessem o que está proposto na unidade. Essa unidade também seria pensada em 3 estágios: o primeiro estágio, referente aos resultados desejados; o segundo estágio, referente a evidências de aprendizado, avaliações; e o terceiro estágio, qual é o plano de aprendizado traçado pelo professor. Essa estrutura evidencia a ideia do Backwards Design, de pensar o objetivo maior primeiro para depois pensar no caminho do aprendizado, atividades, etc.
[Exemplo de currículo] No IB MYP (International Baccalaureate Middle Years Programme), as unidades têm formas mais estritas de estrutura e planejamento, mas possuem a mesma ideia de Backwards Design. Além de pensar em um tema, o professor precisa conectar a unidade criada com um contexto global maior, entre 6 possíveis opções dada pelo currículo do programa, para que possam pensar em atividades inter e transdisciplinares. Além disso, toda unidade deve ter o que eles chamam de Statement of Inquiry, uma frase com uma estrutura básica que deve contemplar o objetivo geral daquela unidade, utilizando verbos e palavras específicas também fornecidas pelo currículo do programa. Apesar de parecer engessado, todos esses elementos fazem o professor refletir como articular os diferentes temas e ajudam a dar uma coesão para o que se é ensinado, para além de só planejar aula a aula e culminar em uma prova.
A ideia de unidade ressoa muito com a linha pedagógica de aprendizagem baseada em projetos, que adicionam o elemento de um problema do mundo real, da realidade das crianças e adolescentes, e engajá-los em um projeto interdisciplinar que vai avaliar tanto o processo quanto o resultado dessa unidade. Esse tipo de ensino requer um tempo de planejamento comum dos professores, e isso nem sempre é possível. Mas as interações entre professores de 2 matérias é possível na maior parte dos contextos escolares, e pode ser muito benéfico para o aprendizado dos alunos entender que o conhecimento de uma matéria pode ser transferido para outro. Um professor de música pode por exemplo planejar uma unidade relacionada a frações, em que o conceito matemático pode ser aplicado em relação às figuras e divisões rítmicas.
Aulas
Após pensar no currículo e nas unidades, é importante entender o que seria interessante que os alunos fossem capazes de fazer ao fim de um período determinado, e pensar em como você avalia esse processo e o seu resultado. Aqui, o conceito de avaliações formativas como ferramenta de avaliação para o aprendizado, que seriam avaliações sem necessariamente ter uma nota, mas uma oportunidade do aluno receber um retorno sobre como está indo, vão ajudar a avaliar o processo ao invés do bimestre culminar em uma ou duas provas somente que vão avaliar somente o resultado desse aprendizado, em uma avaliação somativa. É interessante aqui pensar em que tipos de avaliação você pode utilizar para avaliar o processo e depois o aprendizado em si.
A partir do momento que você define os objetivos que serão avaliados, é possível começar a planejar as aulas individualmente, pensando no caminho pedagógico que você quer que os alunos percorram para alcançar o que se deseja. É interessante deixar esse caminho o mais adaptável possível, sem necessariamente utilizar somente um método recurso, e que se abra um espaço de escuta e atenção para como os alunos estão respondendo às aulas. Ter recursos diversos para a aula, visuais, escritos, sonoros, pode ser interessante para que todos os alunos sejam contemplados em suas formas particulares de aprender.
Em termos de planejamento da aula específica, é interessante aplicar também a mesma lógica de Backwards Design, agora pensando em quais são os objetivos de aprendizagem da aula, e começar a planejar suas atividades de acordo com as diferentes variáveis dentro da sua aula: número de alunos, tempo de aula, recursos disponíveis, espaço da sala de aula. De forma geral, é importante entender quais são os objetivos principais que você deseja que os seus alunos alcancem naquela aula, quanto tempo as suas atividades vão ter em média, possíveis formas de avaliar se os alunos alcançaram aqueles objetivos e que recursos você vai utilizar. Tendo essa organização básica, fica mais fácil se adaptar se for o caso.
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